Dino Campana
A Quimera
Trad. de Gleiton Lentz
Florianópolis/Desterro: Edições Nephelibata, 2007, pp. 29-31
Plaquette
A Quimera
Não sei se em meio às rochas teu pálido
Rosto apareceu a mim, ou sorriso
De distâncias ignotas
Foste, a pendente ebúrnea
Fronte fulgente ó jovem
Sóror da Gioconda:
Ó das primaveras
Apagadas, pelos teus míticos palores
Ó Rainha ó Rainha adolescente:
Mas por teu ignoto poema
De volúpia e de dor
Música menina exangue,
Marcado por uma linha de sangue,
No círculo dos lábios sinuosos
Rainha da melodia:
Mas pela virgem cabeça
Reclinada, eu poeta noturno
Velei as estrelas vívidas nos pélagos do céu,
Eu por teu doce mistério
Eu por teu devir taciturno.
Não sei se a pálida chama
Foi dos cabelos o vivente
Sinal de sua palidez,
Não sei se foi um doce vapor,
Doce sobre minha dor
Sorriso de uma tez noturna:
Diviso as brancas rochas as mudas fontes dos ventos
E a imobilidade dos firmamentos
E os túmidos riachos que vão em lamento
E as sombras do lavor humano curvas lá sobre as colinas algentes
E ainda por tenros céus distantes claras sombras correntes
E ainda te chamo te chamo Quimera.
Campana, Dino. Cantos Órficos. Trad. de Gleiton Lentz. Florianópolis/Desterro: Edições Nephelibata, 2004, p. 42.
Montanha – A Quimera
Tu em meio às rochas o teu pálido
Rosto que atrai ao sorriso
De distâncias ignotas:
Tu na pendente ebúrnea
Fronte fulgente, ó jovem
Sóror da Gioconda:
(Tu das Primaveras
Apagadas, por teus míticos palores
Ó Rainha, ó Rainha adolescente)...
Oh! por teu ignoto poema
De volúpia e de Dor
Música menina exangue,
Marcado com linha de sangue
No círculo dos lábios sinuosos
Rainha da melodia.
Oh! em vão pela virgem cabeça
Reclinada eu poeta noturno
Velei as estrelas vívidas nos pélagos do céu
Eu que fito o teu doce mistério
Eu que fito o teu devir taciturno
. . . . . . . . .
Hoje uma chama pálida
Dentre os cabelos viventes
Sobre o Seu profundo palor
Ó Estio que ardes nos céus
Tu inflamas pelo seu corpo ebúrneo:
À rainha dos sonhos que aparece nos seus vagos véus.